Augusto TRIGO
Aos 7 anos, devido à morte trágica do pai num acidente de caça, veio com dois irmãos para Portugal, ficando a mãe a residir na Guiné, com o filho mais novo.
Aluno da Casa Pia, não se destacou pelo aproveitamento nas disciplinas mais clássicas, mas suscitou a admiração dos professores ao fazer uma escultura em madeira representando as figuras do Presépio, que lhe valeu o 1º prémio num concurso organizado entre vários estabelecimentos de ensino.
Foi a partir daí que os professores, descortinando e tentando estimular as suas aptidões artísticas, o encaminharam no rumo certo, transferindo-o para a secção de Pina Manique da Casa Pia, onde frequentou o curso de entalhador e escultor, sob a orientação do conceituado mestre Martins Correia.
Em 1957, com 19 anos, saiu daquela instituição, obtendo o primeiro emprego como pintor de publicidade. Mas, sempre insatisfeito, sonhando com os horizontes e as vivências da sua infância, não tardou a regressar à Guiné para rever a mãe e os irmãos, acabando por arranjar colocação como desenhador cartográfico.
Cedo, porém, deu provas de não estar grandemente talhado para essas funções demasiado técnicas. E ei-lo a aproveitar todos os momentos livres para pintar quadros a óleo e aguarela sobre temas da sua terra natal.
Em 1964, realizou a primeira exposição de Pintura, que lhe valeu a encomenda de uma série de pinturas e painéis por parte do governo dessa antiga província ultramarina portuguesa. No ano seguinte, executou um painel de grandes dimensões para o novo edifício do Centro de Informação e Turismo, inaugurando-se aí a sua 2ª exposição de Pintura.
Em Abril de 1966, realizou nova exposição, dessa feita no Palácio Foz, em Lisboa, que obteve grande êxito, chamando a atenção do público e da crítica para um talento emergente no cenário das artes plásticas portuguesas.
Repartindo a sua atividade especialmente pela Pintura, a Ilustração e a Escultura, Augusto Trigo foi também professor de Trabalhos Manuais e de Desenho. Além dessa prática docente, ilustrou livros didáticos para a 1ª e a 2ªclasses.
Após a independência da Guiné, em 1975, foi convidado pelos novos governantes a dirigir o Departamento do Artesanato Nacional, lugar que aceitou, estruturando o artesanato em moldes definitivos e recolhendo algumas peças valiosas do património do seu país.
Para o Banco Nacional da Guiné executou um quadro a óleo de grandes dimensões, que seria posteriormente reproduzido numa das faces da nota de mil pesos, emitida pelo novo governo. Mas, em meados de 1979, decidiu regressar definitivamente a Portugal, fixando residência com a família, também de origem guineense, numa localidade perto de Lisboa.
Foi então que optou por uma nova forma de expressão artística, retomando uma experiência iniciada aos 19 anos com uma história aos quadradinhos intitulada "O Visitante Maldito", que assinalaria a sua estreia como autor de BD ao ser publicada, em Fevereiro/Março de 1980, nos nºs 333 a 335 do Mundo de Aventuras (2ª série). Seguiram-se “A Sombra do Gavião”, “A Luz do Oriente”, “O Bisonte Negro”, “A Donzela e o Anel” e outras histórias realizadas já em Portugal.
A partir dessa data, graças a um intenso labor repartido por quase todas as revistas da especialidade (como Tintin, Mundo de Aventuras, Jornal da BD e O Mosquito, da Editorial Futura), suplementos de jornais (Quadradinhos - A Capital), livros didáticos, álbuns e outras publicações, o talento de Augusto Trigo impôs-se à admiração dos leitores, da crítica e dos seus pares, granjeando-lhe um lugar de relevo no panorama da BD portuguesa dos anos 80 e 90.
Dotado de um preciosismo estético invulgar, na linha da grande tradição da BD Clássica — com especial relevo para os artistas que mais o influenciaram: Harold Foster, Eduardo Teixeira Coelho e Vitor Péon —, o estilo de Augusto Trigo pode definir-se como hiper-realista, assentando num intenso (e quase mimético) poder de observação e numa conceção gráfica e narrativa que o aproxima de autores mais modernos como Hermann, Derib ou Blanc-Dumont, sobretudo nas histórias de ambiente "western" que realizou em meados dos anos 80: “Wakantanka – O Bisonte Negro” e “Wakantanka - O Povo Serpente”, com argumentos de Jorge Magalhães.
Excelente desenhador naturalista, particularmente do reino animal, é nas criações de temática africana, como "Kumalo - A Vingança do Elefante" (onde Trigo segue o apelo das suas próprias raízes), que se espelham de forma mais evidente as qualidades que o distinguem como artista de Banda Desenhada — predestinadamente, o seu meio de expressão mais genuíno, síntese e confluência de todas as vocações anteriores.
Distinguido com vários prémios de prestígio, ao longo de 36 anos de carreira na BD, entre eles o Troféu de Honra do Festival da Amadora no ano 2000, Augusto Trigo deixou durante algum tempo de produzir BD histórica e de aventuras, depois de ter colaborado com episódios de índole humorística num livro de homenagem a Vasco Granja e nas revistas Selecções BD (2ª série) e Clube Tio Pelicas, do Montepio Geral. Participou também no álbum coletivo “Lenda da Moura Salúquia”, editado em 2009 pela Câmara Municipal de Moura, com uma história curta de Jorge Magalhães, a convite de Carlos Rico, e que nos transportou novamente ao ambiente da Idade Média presente em três álbuns da coleção Lendas de Portugal em Banda Desenhada, das Edições Asa (editados entre 1988 e 1991), com os seguintes episódios: “A Lenda do Rei Rodrigo”, “A Moura Encantada”, “A Lenda de Gaia”, “A Dama Pé-de-Cabra” (adaptação do conto de Alexandre Herculano) e “A Moura Cassima” (prémio do Melhor Álbum Português no Amadora BD 1992).A mestria revelada no género humorístico acabou por definir uma nova orientação na carreira de Augusto Trigo, que durante dois anos, de 2012 a 2014, colaborou regularmente no jornal Correio da Manhã, publicando cartoons diários na rubrica “Descubra as Diferenças”. Presentemente, retomou um antigo projeto, interrompido em 1993, quando as Edições Asa se viram forçadas a suspender os álbuns que tinham em produção. Baseada numa lenda da Guiné, com um herói de origem mandinga chamado Quelé-Fabá, essa história (também com guião de Jorge Magalhães) tem já mais de 20 pranchas realizadas pelo traço magnífico e sempre envolvente de Augusto Trigo.
Texto de Jorge Magalhães
Aluno da Casa Pia, não se destacou pelo aproveitamento nas disciplinas mais clássicas, mas suscitou a admiração dos professores ao fazer uma escultura em madeira representando as figuras do Presépio, que lhe valeu o 1º prémio num concurso organizado entre vários estabelecimentos de ensino.
Foi a partir daí que os professores, descortinando e tentando estimular as suas aptidões artísticas, o encaminharam no rumo certo, transferindo-o para a secção de Pina Manique da Casa Pia, onde frequentou o curso de entalhador e escultor, sob a orientação do conceituado mestre Martins Correia.
Em 1957, com 19 anos, saiu daquela instituição, obtendo o primeiro emprego como pintor de publicidade. Mas, sempre insatisfeito, sonhando com os horizontes e as vivências da sua infância, não tardou a regressar à Guiné para rever a mãe e os irmãos, acabando por arranjar colocação como desenhador cartográfico.
Cedo, porém, deu provas de não estar grandemente talhado para essas funções demasiado técnicas. E ei-lo a aproveitar todos os momentos livres para pintar quadros a óleo e aguarela sobre temas da sua terra natal.
Em 1964, realizou a primeira exposição de Pintura, que lhe valeu a encomenda de uma série de pinturas e painéis por parte do governo dessa antiga província ultramarina portuguesa. No ano seguinte, executou um painel de grandes dimensões para o novo edifício do Centro de Informação e Turismo, inaugurando-se aí a sua 2ª exposição de Pintura.
Em Abril de 1966, realizou nova exposição, dessa feita no Palácio Foz, em Lisboa, que obteve grande êxito, chamando a atenção do público e da crítica para um talento emergente no cenário das artes plásticas portuguesas.
Repartindo a sua atividade especialmente pela Pintura, a Ilustração e a Escultura, Augusto Trigo foi também professor de Trabalhos Manuais e de Desenho. Além dessa prática docente, ilustrou livros didáticos para a 1ª e a 2ªclasses.
Após a independência da Guiné, em 1975, foi convidado pelos novos governantes a dirigir o Departamento do Artesanato Nacional, lugar que aceitou, estruturando o artesanato em moldes definitivos e recolhendo algumas peças valiosas do património do seu país.
Para o Banco Nacional da Guiné executou um quadro a óleo de grandes dimensões, que seria posteriormente reproduzido numa das faces da nota de mil pesos, emitida pelo novo governo. Mas, em meados de 1979, decidiu regressar definitivamente a Portugal, fixando residência com a família, também de origem guineense, numa localidade perto de Lisboa.
Foi então que optou por uma nova forma de expressão artística, retomando uma experiência iniciada aos 19 anos com uma história aos quadradinhos intitulada "O Visitante Maldito", que assinalaria a sua estreia como autor de BD ao ser publicada, em Fevereiro/Março de 1980, nos nºs 333 a 335 do Mundo de Aventuras (2ª série). Seguiram-se “A Sombra do Gavião”, “A Luz do Oriente”, “O Bisonte Negro”, “A Donzela e o Anel” e outras histórias realizadas já em Portugal.
A partir dessa data, graças a um intenso labor repartido por quase todas as revistas da especialidade (como Tintin, Mundo de Aventuras, Jornal da BD e O Mosquito, da Editorial Futura), suplementos de jornais (Quadradinhos - A Capital), livros didáticos, álbuns e outras publicações, o talento de Augusto Trigo impôs-se à admiração dos leitores, da crítica e dos seus pares, granjeando-lhe um lugar de relevo no panorama da BD portuguesa dos anos 80 e 90.
Dotado de um preciosismo estético invulgar, na linha da grande tradição da BD Clássica — com especial relevo para os artistas que mais o influenciaram: Harold Foster, Eduardo Teixeira Coelho e Vitor Péon —, o estilo de Augusto Trigo pode definir-se como hiper-realista, assentando num intenso (e quase mimético) poder de observação e numa conceção gráfica e narrativa que o aproxima de autores mais modernos como Hermann, Derib ou Blanc-Dumont, sobretudo nas histórias de ambiente "western" que realizou em meados dos anos 80: “Wakantanka – O Bisonte Negro” e “Wakantanka - O Povo Serpente”, com argumentos de Jorge Magalhães.
Excelente desenhador naturalista, particularmente do reino animal, é nas criações de temática africana, como "Kumalo - A Vingança do Elefante" (onde Trigo segue o apelo das suas próprias raízes), que se espelham de forma mais evidente as qualidades que o distinguem como artista de Banda Desenhada — predestinadamente, o seu meio de expressão mais genuíno, síntese e confluência de todas as vocações anteriores.
Distinguido com vários prémios de prestígio, ao longo de 36 anos de carreira na BD, entre eles o Troféu de Honra do Festival da Amadora no ano 2000, Augusto Trigo deixou durante algum tempo de produzir BD histórica e de aventuras, depois de ter colaborado com episódios de índole humorística num livro de homenagem a Vasco Granja e nas revistas Selecções BD (2ª série) e Clube Tio Pelicas, do Montepio Geral. Participou também no álbum coletivo “Lenda da Moura Salúquia”, editado em 2009 pela Câmara Municipal de Moura, com uma história curta de Jorge Magalhães, a convite de Carlos Rico, e que nos transportou novamente ao ambiente da Idade Média presente em três álbuns da coleção Lendas de Portugal em Banda Desenhada, das Edições Asa (editados entre 1988 e 1991), com os seguintes episódios: “A Lenda do Rei Rodrigo”, “A Moura Encantada”, “A Lenda de Gaia”, “A Dama Pé-de-Cabra” (adaptação do conto de Alexandre Herculano) e “A Moura Cassima” (prémio do Melhor Álbum Português no Amadora BD 1992).A mestria revelada no género humorístico acabou por definir uma nova orientação na carreira de Augusto Trigo, que durante dois anos, de 2012 a 2014, colaborou regularmente no jornal Correio da Manhã, publicando cartoons diários na rubrica “Descubra as Diferenças”. Presentemente, retomou um antigo projeto, interrompido em 1993, quando as Edições Asa se viram forçadas a suspender os álbuns que tinham em produção. Baseada numa lenda da Guiné, com um herói de origem mandinga chamado Quelé-Fabá, essa história (também com guião de Jorge Magalhães) tem já mais de 20 pranchas realizadas pelo traço magnífico e sempre envolvente de Augusto Trigo.
Texto de Jorge Magalhães
Bibliografia portuguesa:
Excalibur, Lendas de Portugal em BD, Ranger, Tio Pelicas, Wakantanka
- O visitante maldito, 1980, Augusto Trigo e João Maria Bravo, Mundo de Aventuras (2ª fase) #333 a #335
- Luz do Oriente, 1982, Augusto Trigo e Jorge Magalhães, Mundo de Aventuras Especial #30, Álbum Editorial Futura [1985]
- O misterioso anfitrião, 1984, Almanaque "O Mosquito" de 1984
- Kumalo, 1987, Augusto Trigo e Jorge Magalhães, Jornal da BD #251
- A sombra do gavião, Augusto Trigo e Roy West, Mundo de Aventuras (2ª fase) #369; Cadernos Sobreda BD #6
- Jeremias do Amaral, Cadernos Moura BD #1
- O soldado "Milhões", Cadernos Moura BD #1
- Um visitante na corte do Rei Artur, Augusto Trigo e Jorge Magalhães, Álbum "Vasco Granja" [2003]
- Salúquia, a lenda em banda desenhada, Augusto Trigo e Jorge Magalhães, Álbum colectivo [2009]